1º Simpósio de Pós-Graduados e Aty Guasu
Neste item os relatores do 1ºSimpósio de Pós-Graduados e Aty Guasu apresentam os resumos de depoimentos das lideranças de territórios em conflito localizados justamente no município de Paranhos-MS e outros municípios vizinhos/faixa de fronteira Brasil com Paraguai vinculados à jurisdição do MPF/Ponta Porã-MS.
Ao longo das três dias de 1ºSimpósio de pós-graduados e Aty Guasu em Arroio Kora, através de vários depoimentos indígenas idosos, ficaram evidentes que os Guarani-Kaiowa e Ñandeva de atual Cone Sul de Mato Grosso do Sul não assistiram calados e parados à invasão/ocupação/colonização de seus territórios antigos. Pelo contrário, passaram a lutar para sobreviver, ao mesmo tempo, insistem e resistem reiteradamente em retornar aos seus territórios antigos que perduram até hoje. Evidentemente essa luta histórica Guarani e Kaiowá pelos territórios indica que continuará para sempre. É importante destacar que em decorrência de suas resistências e insistências em recuperar uma parte de territórios antigos já sofreram e sofrem ainda as violências diversas praticadas pelos novos ocupantes de territórios indígenas, conhecidos como “os produtores rurais e/ou fazendeiros temidos”. Como ficará claro nos depoimentos traduzidos a seguir.
Na abertura, uma das lideranças idosas de tekoha Arroio Kora narrou violências sofridas mais de 40 anos. Após a expulsão de seu território Arroio Kora-Paranhos-MS.
“Lembro que quando eu era criança o meu pai e mãe e meus parentadas foram expulsas daqui de forma violentas, ataque a tiros. Esses fazendeiros que pegaram e ficaram com os nossos territórios aqui são muito bravos mesmos quero registrar isso. Só andavam armados quaisquer coisas espancavam e atiravam nos índios, já são assim violentos desde muito tempo que continuam até hoje. Já faz mais de 20 anos que estamos lutando para recuperar esses nossos territórios Arroio Kora. Os fazendeiros também já fazem mais de 30 anos que atiram sobre nos e judiam-nos até hoje, vocês estão escutando esses tiros disparados pelos pistoleiros, esses tiros comecei a ouvir ainda criança e até hoje continuo ouvindo. Lembro que os fazendeiros falavam para o meu pai quando expulsou se voltasse ia ser morto a tiros. Já faz 14 anos que retornamos aqui, já fomos atacados a tiros várias vezes. Na semana passada recebi uma mensagem que os fazendeiros vão mandar me matar e vai matar meu filho, vai matar todos nos. Eu já estou velhinho demais, já vou morrer mesmo, por isso não vou esperar mais ninguém para retornar ao meu tekoha guasu. Assim, decidimos e por isso voltamos donde o meu pai e minha família foram expulsos pelos fazendeiros. Passei vida inteira sofrendo e recebendo a ameaça de morte, agora chega! Não vou morrer fora desse território, já voltei aqui no centro de nosso tekoha guasu esses fazendeiros bravos já podem vir me matar aqui.”
Uma liderança idosa do território indígena Jaguapiré, uma parte já recuperado, narrou as violências sofridas ao longo de meado da década de 1980.
“No dia 02/03/1985. Os proprietários das fazendas Modelo e Redenção, acompanhados de 23 pistoleiros/jagunços e 03 polícias militar, atacaram a tiros as nossas casas em que estávamos com as crianças e idosos (as) pegaram as crianças jogaram em cima de um caminhão de boi e expulsaram-nos de tekoha Jaguapiré e fomos jogados nas margens da estrada perto da aldeia Limão Verde-Amambai. Assim fomos humilhados e violentados. Eles destruíram e queimaram todas as nossas casas. Os pistoleiros espancaram brutalmente os homens, as mulheres, crianças. Assim, ataque a tiros e expulsões violentas aconteceram três vezes com nós, os espancados e torturados sofrem até hoje, não se recuperam nunca mais”. A liderança lembrou e narrou o fato chorando.
“Os nossos parentes de tekoha Paraguasu/Takuaraty-Paranhos foram expulsos e violentados pelos pistoleiros de modo similar por sete (07) vezes”.
Idosas Guarani e Kaiowá lembraram ainda da atuação dos agentes da FUNAI e POLÍCIA naquela época, isto é, em meado de 1980.
“Naquela época quem pedia a nossa expulsão violentas de nossos tekoha era própria FUNAI, ajudava e apoiava os pistoleiros para fazer a nossa expulsão e judiação. FUNAI falava para nós que nós éramos culpados e errados, não podíamos morar na fazenda, tínhamos que sair rápido mesmo do lugar, senão íamos ser atacado a tiros que ninguém ia nos defender não, assim FUNAI e Polícia falavam para nós. Autoridades da FUNAI ficavam do lado dos fazendeiros.”
Uma liderança atual de Potrero Guasu-Paranhos, relatou também o ataque a tiro violento ocorrido em 2000.
“Em 18/01/2000. Nosso Tekohá Potrero Guasu (Paranhos/MS). Por volta da meia-noite, 50 pistoleiros armados e vestidos com roupas do Exército, invadiram e atacaram a tiros as nossas casas em Potrero Guasu. Eles atacaram-nos a tiros para fazer nossa expulsão. Trinta e cinco casas com todos os pertences de nossas famílias foram incendiadas. Os agressores davam tiros sem parar e espancaram alguns homens, inclusive uma criança saiu ferida a tiros. Mulheres foram estupradas na frente dos maridos amarrados e dos filhos. Os homens indígenas que não conseguiam fugir para o mato foram amarrados e amontoados na carroceria de uma caminhonete e despejados nos arredores da aldeia de Pirajuí, há 20 quilômetros de distância de Potrero Guasu. Na tarde do dia seguinte, os fazendeiros bloquearam a estrada, impedindo o acesso de médicos e do Grupo de Trabalho da Funai. Pelos menos na época a equipe da FUNAI de Dourados e Polícia Federal veio rápido e prendeu alguns pistoleiros. Hoje, FUNAI e Polícia não trabalha mais assim não” . Observou a liderança de Potrero Guasu
Um líder de tekoha Ypo’i se lembrou do ataque a tiros e a morte do Genivaldo Vera e Rolindo Vera, ocorrido também no município de Paranhos-MS
“ A tarde, no dia 31 de Outubro de 2009, segundo dia da reocupação de nosso tekoha Ypo’i, estávamos com as crianças e mulheres já acampado em Ypo’i, fomos atacado a tiros por um conjunto de pistoleiros armados da Fazenda São Luiz. Fomos dispersados a tiros do Ypo’i no momento em que pegaram o Genivaldo e Rolindo Vera , sequestraram e mataram. O Genivaldo foi jogado no córrego e o corpo do Rolindo esconderam. Nós voltamos todos machucados a aldeia Pirajuí. O corpo de Genivaldo foi encontrado uma semana depois, o corpo detonado a tiro, mas corpo do Rolindo Vera não encontramos até hoje. Queremos localizar o corpo de Rolindo Vera, todos os dias a mãe e a esposa e filhos aguardam notícia do Rolindo além de chorar por ele.” Vivo o Rolindo não está não, imagina se um líder Guarani e Kaiowá cair na mão desses pistoleiros e fazendeiros, com certeza foi muito torturado, massacrado e morto de modo cruel, por isso pedimos reiteradamente a punição aos autores e mandante que e o Fermino Escobar da Fazenda São Luiz”
Uma liderança do tekoha Sombrerito, localizada no município de Sete Queda/faixa de fronteira Brasil com Paraguai que há distancia de 40 km de Paranhos-MS, que proferiu a palestra no 1º Simpósio se lembrou do ataque a tiros ocorrido em tekoha Sombrerito no dia 26 de junho de 2005.
“Na manhã do dia 26 de junho de 2005, por volta das 9 horas, o nosso tekoha Sombrerito foi invadida por cerca de 30 homens armados que montados a cavalo e de carro disparam dezenas de tiros contra a nossa comunidade”. “O nosso companheiro Dorival Benites, 26 anos foi atingido com um tiro no peito e morreu na hora”. “Outros três ficaram feridos que continuam até hoje doente. Não sabemos da investigação policial” “Sabemos que os autores e nem mandantes não foram punidos.”
Uma liderança do tekoha Pyelito Kue/Mbarakay, localizada no município de Iguatemi-MS, dista 70 km de Paranhos-MS faixa de fronteira Brasil com Paraguai, narrou o fato de ataque a tiro a comunidade de Pyelito kue, de forma semelhante a outras lideranças.
“Em 09/12/2009. No município de Iguatemi, as nossas casas em que estavam dezenas de crianças e mulheres foram atacados a tiros pelos pistoleiros das fazendas. 10 pessoas foram feridas a tiros e sofreram hematomas e fratura nos corpos, os dois já faleceram recentemente há 6 estão doentes até hoje”
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