História Aty Guasu

Tonico Benites-Guarani-Kaiowá e pesquisador da UFRJ

História da invasão do território Guarani Kaiowá

Tekoha Guasu Guarani e Kaiowá, 18 de dezembro de 2012.

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

A vida mísera dos povos Guarani- Kaiowá despejados dos seus territórios antigos-DESPEJO NÃOOOO!!


Carta/Nota do Conselho da Aty Guasu Guarani-Kaiowá para Justiça do Brasil

O objetivo desta nota do conselho da grande assembleia Guarani-Kaiowá Aty Guasu é explicitar a situação mísera, perplexa e instável permanente de vida de várias comunidades Guarani-Kaiowá despejadas dos territórios tradicionais que se encontram nas reservas/aldeias superlotadas, nas margens da rodovias BR e nas periferias das cidades do Cone Sul de MS. De fato, a vida mísera e instável são resultados de despejo dos indígenas ou da expulsão forçada dos territórios antigos que foi praticada inicialmente pelos pistoleiros das fazendas do atual Cone Sul de MS. Assim, destacamos que um dos fatores determinantes de nossa miséria, sofrimento e morte física e cultural contínuo, sobretudo o nosso extermínio como povo indígena  é o resultado da ordem da expulsão forçada ou despejo de nosso território tradicional praticado historicamente pelos fazendeiros e recentemente a ordem de despejo perverso da cominidade Guarani-Kaiowá foi assumido pela primeira instância da  Justiça Federal do Mato Grosso do Sul.

De fato, a nossa miséria, sofrimento e instabilidade e dispersão cruéis familiares, a tentativa de nosso desligamento de nosso território  começou marcadamente a partir da década de 70 e 80, quando os fazendeiros recém-assentados, aliados ao poder político da região Cone Sul, política indigenista e à ditadura começaram expulsar nos e dispersar-nos de forma violenta dos nossos territórios tradicionais e fomos levados às reservas/aldeias onde hoje não há mais espaço de terra para nós sobrevivemos, onde não há mais água, sobretudo as reservas/aldeias se encontram superlotadas, por conta de  superlotação há violências adversas diariamente no pequeno espaço de reservas/aldeias. Nestas reservas não há como praticar e preservar mais nosso modo de ser e viver Guarani-Kaiowá, diante disso que muitas famílias Guarani-Kaiowá decidiram e tentaram retornar e reocupar à parte pequena do território antigo, com o objetivo de sobreviver culturalmente e para praticar o ritual religioso e se afastar do mundo de violências adversas das reservas/aldeias superlotadas. Como exemplo: A comunidade de Ñanderu Laranjeira-Rio Brilhantes-MS, Takuará-Juti, Kurusu Amba-Cel Sapucaia, Guaiviry-Aral Moreira, Guyra Roka-Caarapó entre outros. Nestes pequenos espaços reocupados por família grande Guarani-Kaiowá em que ocorrem diariamente a prática de ritual religioso e profano, os grupos recomeçaram reviatilizar as culturas tradiconais que garantem a boa vida futura, além de preservar a cultura indígena, enquanto nas reservas/aldeias superlotadas só há violencias adversas, cada dia aumenta disputa violenta entre intra-familiares aldeadas, miséria, fome, morte por falta de espaço de terra, não consegue mais se preservar as práticas culturais e nem realizar ritual religioso que é vital  para nossa vida guarani-kaiowá.  De fato, em decorrência desses vários despejos violentos já resultaram centenas suícidios, morte por desnutrição em todas reservas/aldeias superlotadas.

Em geral a ordem de despejo da comunidade Guarani-Kaiowá dos territórios conseguido pelos fazendeiros através da Justiça Federal, em certa medida é a continuidade da expulsão drástica e perversa praticado comumente pelos pistoleiros das fazendas em 1970. Já vivemos e sentimos que as consequências das ações de despejos tanto pelos pistoleiros das fazendas quanto pelas Justiças os resultados foram, são e serão extremamente truculentas e nocivas permanentemente para nova geração Guarani-Kaiowá.  

Assim, destacamos que a ordem de despejo da Justiça Federal em Dourados-MS para despejar através de forças policiais a comunidade (crianças, idosos) Guarani-Kaiowá de Ñanderu Laranjeira faz parte da frente do processo sistemático de etnocídio/ genocídio histórico e violências adversas contra povos indígenas brasileiros, alimentando o extermínio total do povo Guarani-Kaiowá do Cone Sul de Mato Grosso do Sul.

Diante disso, vimos através desta carta apresentar os nossos pedidos às Justiças Brasileiras que nos povo Guarani-Kaiowá queremos sobreviver fisicamente e culturalmente como povo originário do Brasil. Não queremos ser extinto pela própria ação e mando da Justiça do Brasil. Como primeiro povo indígena do Brail queremos ser protegida pela Justiça brasileira.Não queremos ver mais os nossos parentes a serem expulsa violentamente dos seus pequenos territórios tradicionais, aumentando e alimentando mais violências cruéis contra o povo Guarani-Kaiowá. Por essa razão, nós lideranças da assembleia do Aty Guasu do povo Guarani Kaiowá do MS solicitamos a permanência da comunidade Guarani-Kaiowá de Ñanderu Laranjeira-Rio Brilhante-MS no pequeno espaço antigo em que está reiniciando uma boa vida onde está revitalizando os rituais vitais do povo Guarani-Kaiowá.

Queremos que a Jusiça do Brasil antes de despejar a comunidade indígena Guarani-Kaiowá de Ñanderu Laranjeira-Rio Brilhante-MS considere em primeiro lugar que as reservas/aldeias indígenas existentes do Cone Sul do atual Estado de Mato Grosso do Sul são superlotadas onde não há mais espaço, infraestrutura e recursos naturais para sobreviver como povo Guarani-Kaiowá. Nas margens da rodovia há diversos perigos de vida onde já foram atropelados e mortos 5 indígenas de Ñanderu Laranjeira-Rio Brilhante-MS.

Em pequeno espaço dos territórios tradicionais Ñanderu Laranjeira-Rio Brilhante-MS são encontrados fundamentalmente a presença de fontes de água (minas d’água, córregos, rios, etc.), que é o que permite e garante a vida boa da comunidade indígena Guarani-Kaiowá.

Destacamos que nos Guarani e Kaiowá temos ligação com o território próprio, pertencemos à determinada terra, assim, a terra ocupada por nosso antepassado recente é vista por nós como uma fundamentação de vida boa, vida em paz, sobretudo é a fonte primária de saúde, bem estar da comunidade e familiares indígenas.  Dessa forma, o nosso território antigo é vital para nossa sobrevivência  e desenvolvimento de atividades culturais que permitem a vida boa como um forte sentimento religioso de pertencimento à terra antiga, fundamentada em termos cosmológicos, sob a compreensão de que nos guarani-Kaiowá fomos destinados, em nossa origem como humanidade, a viver e a cuidar deste território antigo específico.

Por fim, o tekoha Ñanderu Laranjeira-Rio Brilhante-MS é de  ocupação tradicional Guarani-Kaiowá, é integrante das terras situadas na bacia do Rio Brilhante como outro tekoha faz divisa com o rio Brilhantes.

Atenciosamente,                                                                                      
Ñanderu Laranjeira-Rio Brilhante-MS, 31 de janeiro de 2012
Lideranças/conselho de Aty Guasu do povo Guarani-Kaiowá do MS.