NOTA DAS LIDERANÇAS DA ATY GUASU GUARANI-KAIOWÁ À IMPRENSA
O objetivo desta nota das lideranças da grande assembléia Guarani e Kaiowá Aty Guasu é reafirmar, mais uma vez, que a liderança religiosa Nisio Gomes de fato foi massacrado, assassinado e cadáver foi escondido do tekoha Guaiviry (por volta de 06h30min) no dia 18/11/2011, pelos pistoleiros das fazendas localizadas no município de Aral Moreira-MS. Infelizmente, esta é conclusão definitiva que prevalecerá entre nós lideranças Guarani e Kaiowá.
A nossa conclusão está fundamentada nos depoimentos de todos parentes sanguíneos de Nisio Gomes e nas investigações próprias de todas as lideranças indígenas das terras indígenas de Mato Grosso do Sul que foram apresentadas no seio de três grandes assembleias Aty Guasu Guarani-aiowá. Além disso, um dos embasamentos de nossa consideração final a respeito de assassinato do Nisio é o regimento tradicional de formação de um líder-rezador ñanderu do povo Guarani e Kaiowá e, sobretudo consideramos as funções irrenunciáveis assumidos pelo rezador-suporte-líder da família extensa guarani-kaiowá.
Assim, destacamos que, ao longo de seis meses, (isto é, desde 18/11/2011 até 18/05/2012) tantos os parentes do Nisio quantos todos os líderes guarani-kaiowá se dedicaram (e ainda se dedicarão) reiteradamente à localização do corpo do Nisio, indo atrás de informação em todas as aldeias, mas não o encontramos. A única certeza que concluímos e socializamos, mais uma vez, que o rezador Nisio foi morto de modo cruel e seu cadáver está guardado pelos pistoleiros contratados pelos fazendeiros.
Em princípio, o xamã Nisio Gomes é bem conhecido, portanto não tem como fugir e nem se esconder, visto que ao longo de quatros décadas, na condição de idoso e rezador formado é considerado como protetor de território, vida e cultura sagrada guarani e kaiowá, Nisio Gomes participou de todas as grandes assembleias Aty Guasu coordenando o ritual religioso. Por essa razão, ele é bem conhecido tanto pelas autoridades federais como pelas lideranças guarani e kaiowá de todas as aldeias do Cone Sul-MS.
Importa ressaltar que, ao atingir 45 anos de idades, o Nisio Gomes foi formado em xamã-rezador, conforme o regimento de formação de xamã-rezador a partir daí, ele foi realizador de importante ritual de batismo de crianças, que é um ritual de assentamento de nome/alma no corpo das crianças - mitã mongarai- que era realizada uma vez por mês, ou seja, 15 e 15 dias. O Nisio é portador de instrumento sagrado xiru marangatu e de várias rezas específicas para a realização de ritual de batismo. Ele é conhecedor de plantas medicinais. Como já dito, há mais de três décadas, o Nisio, além de reivindicar o território antigo tekoha Guaiviry, passou a ocupar a função importante de liderança religiosa ñanderu.
É importante evidenciar que o rezador/líder religioso ñanderu, na crença e cultura do povo Guarani Kaiowá, é um cargo vital irrenunciável e imutável. Conforme o regimento determinante dos rezadores, o rezador formado não deve abandonar o território tradicional, os instrumentos sagrados xiru marangatu, nem deve se afastarem dos seus auxiliares, aprendizes, parentes, principalmente dos filhos (as), netos (as). Visto que o cargo de rezador formado é suporte sagrado e protetor vital do território e dos integrantes do povo Guarani-Kaiowá.
No que diz respeito às funções de liderança nas aldeias é fundamental destacar que uma das funções principais das lideranças e seus auxiliares das aldeias indígenas são o de conhecer bem todos os membros das aldeias, controlando rigorosamente a circulação dos membros da comunidade, isto é, a cada liderança guarani-kaiowá procura a conhecer as pessoas (índios e “brancos”) que chegam à aldeia indígena de sua jurisdição. Além disso, a liderança investiga as violências praticadas no interior da aldeia e punem os autores, denunciando e entregando os indígenas violentos à polícia e justiça, por isso mesmo, há centenas de indígenas prisioneiros.
Destacamos ainda que, quando a própria liderança indígena pratica qualquer ato violento e ilícito, tanto contra seus membros como contra não índios “brancos”, com honra o líder assume publicamente seu crime e ainda exige que seja punido exemplarmente, assim, a princípio, normalmente a liderança indígena não inventa nada para se escapar da punição e da justiça. Neste sentido, temos obsoluta certeza que se o rezador Nisio Gomes se estivesse com vida não se esconderia da sua luta histórica e da justiça.
Até os dias atuais, nenhuma liderança guarani-kaiowá não se escondeu e nunca correrá e nem se esconderá da luta pelos territórios tradicionais.
Hoje, em todas as aldeias Guarani-Kaiowá há centenas de lideranças guarani-kaiowá com responsabilidade séria que investigam, interrogam e aprovam os depoimentos dos indígenas violentados durante os ataques praticados pelos pistoleiros em todas as regiões do Cone Sul de MS. Somente depois disso foram, são e serão feitas as denúncias dos crimes variados contra o povo Guarani-Kaiowá.
Baseado nessa forma de atuar de lideranças guarani-kaiowá citada acima, sobretudo no regimento tradicional dos rezadores Guarani e Kaiowá, o rezador Nisio Gomes com vida não deve abandonar o território antigo que ele reocupou, não deve deixar os instrumento sagradosxiru marangatu, auxiliares, aprendizes, parentes, sobretudo os filhos (as), netos (as), porém o território antigo reocupado Guaiviry, os filhos (as), netos (os), parentes foram abandonado por Nisio Gomes no dia 18/11/2011, por quê?? Sem dúvida, o rezador Nisio abandonou já sem vida o território tradicional tekoha Guaiviry reocupado com qual lutou três décadas e ele já sem vida deixou o instrumento sagrado xiru marangatu, familiares em tekoha Guaiviry.
Como já anunciamos anteriormente, nós lideranças-investigadores da Aty Guasu investigamos rigorosamente, ouvimos em detalhe todos os parentes, irmãos (ãs), filhas (os), netos (as) de modo repetitivo, na grande assembleia Aty Guasu. A partir de todos os depoimentos ouvidos e analisados no seio de três (03) assembleia geral Aty Guasu concluímos que a liderança religiosa Nisio Gomes de fato foi assassinado e levado do tekoha Guaiviry no dia 18/11/2011 pelos pistoleiros das fazendas. Esta é conclusão definitiva que prevalecerá eternamente entre nós todos, os povos Guarani e Kaiowá.
Atenciosamente,
Em, 24 de maio de 2012
Conselho da Aty Guasu Guarani-Kaiowá-MS
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