ATY GUASU GUARANI E KAIOWÁ LUTA PELA VIDA E CONTRA ETNOCÍDIO/GENOCÍDIO
Este relatório é da comissão de lideranças da Aty Guasu Guarani e Kaiowá, resultante de levantamento in loco da situação atual da comunidade indígena Guarani-Kaiowá da tekoha Passo Piraju-Dourados-MS. O levantamento in loco foi realizado no dia 16 de outubro de 2012.
Nós da comissão da Aty Guasu, a mando de 5.000 Guarani e Kaiowá articulados do território em conflito do cone sul de MS, no dia 16 de outubro de 2012, fomos à tekoha Passo Piraju participamos da reunião da comunidade de Passo Piraju, ouvimos e observamos diretamente a situação, posição e, sobretudo, a decisão da comunidade frente à ordem de despejo da Justiça Federal da TRF 3 São Paulo-S.P.
Em primeiro lugar, constatamos que, desde 08 de outubro de 2012, após receber a notícia que será despejada do lugar, a comunidade Guarani-Kaiowá de Passo Piraju se encontram em estado de pânico, perplexo e desespero total. Alguns rezadores ñanderu ou líderes espirituais já foram acionados para diminuir os desesperos e medo das crianças e adolescentes, ao mesmo tempo, os rezadores buscam a indicar alguma decisão possível dos adultos guarani-kaiowá diante da ordem de expulsão. Uma das decisões definitiva anunciada na reunião pela comunidade Passo Piraju é não sair do lugar, é resistir e morrer todos juntos. Esta decisão foi repetida, em coro, várias vezes pela comunidade.
“Nós não vamos sair daqui! nós vamos morrer todos junto aqui!. Na beira da estrada não vamos voltar mais viver! por isso vamos morrer todos junto aqui mesmo!”. Ao falar essa frase várias mulheres e moças indígenas choram sem parar.
Por último, a comunidade de Passo Piraju pediu a visitação e vinda de vários rezadores e integrantes de outras comunidades indígenas do cone sul de Mato Grosso do Sul. Por fim, constatamos várias estruturas construídas pelo Governo Municipal, Estadual e Federal no interior da tekoha Passo Piraju-Dourados-MS
Há uma escola construída pela prefeitura de Dourados-MS onde funciona o ensino de 1º a 5º ano.
Há prática de plantação e produção de alimento para o consumo próprio. Horta e pomar.
A comunidade recebeu água potável pela FUNASA. Instalação da energia de “Luz para Todos”.
A comunidade de Passo Piraju informou que, apesar de pequena área onde moram mais de 400 indígenas, ali não há violência entre eles, todos convivem em harmonia e paz. Todos se alimentam bem diariamente, não há crianças desnutridas.
“ Aqui no Passo Piraju, nós estamos bem felizes, já faz dez anos que superamos a miséria e fome em que vivíamos na beira da estrada despejada”. “No passado recente, vivemos vários anos na beira da estrada com muito sofrimento e fome, onde nossas crianças passavam fome e doentes, muitas crianças morreram lá”, por isso nós não queremos mais retornar a viver na beira da estrada, preferimos a morte que voltar na beira da estrada. Entendemos que o Governo Federal construiu para nós escola, caixa da agua, posto saúde, assim está ajudando nós para sobreviver, enquanto a justiça federal vai mandar nos levar jogar na beira da estrada. “Parece que a Justiça do Brasil só que ver o sofrimento e morte dos índios na beira da estrada”. “Será que essa é justiça de verdade?”
Dessa forma, tristemente, a comunidade lembrou-se da miséria e fome vivida na beira da estrada, que de fato não quer nem imaginar e nem mais retornar ao passado sofrido e preferem a morte coletiva. Uma vez que na tekoha Passo Piraju, visivelmente, a comunidade sofrida e violentada, em parte está superando essa vida traumatizada e miserável narrada.
É evidente, de fato, para todos nós Guarani e Kaiowá do cone sul de MS, esse tipo de decisão de despejo deferido pela Justiça Federal é violência cruel que gera miséria e morte/extermínio dos indígenas sobreviventes, por essa razão, nós comissão de lideranças da Aty Guasu pedimos a revogação imediata da ordem de despejo da comunidade de Passo Piraju-Dourados-MS. Somente assim, a Justiça brasileira pode salvar e proteger as vidas dos primeiros povos nativos sobreviventes do Brasil que está em iminente perigo de retornar a sofrer e morrer indignamente. Aguardamos os dias melhores e justos para as crianças indígenas Guarani e Kaiowá.
Atenciosamente,
Tekoha Passo Piraju, 16 de outubro de 2012.
Comissão de lideranças da Aty Guasu
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