terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

A história e trajetória de vida do rezador ñanderu Nisio Gomes," com vida nunca abandonar a luta pela terra antiga"


NOTA DE ATY GUASU 

O objetivo desta nota das lideranças da grande assembléia Guarani e Kaiowá Aty Guasu é explicitar em detalhe e socializar a história e trajetória de vida do rezador ñanderu Nisio Gomes.

Nossa iniciativa tem o sentido de reafirmar a grande honradez e dignidade de uma autoridade religiosa e espiritual de nosso povo, que vem sendo atacada de forma leviana ao longo das investigações sobre o ataque sofrido pelo grupo de Nísio, no Tekoha Guaiviry, em 18/11/11.

Assim, destacamos que, ao longo das últimas três décadas, na condição de rezador  e protetor de território, vida e cultura sagrada guarani e kaiowá, Nisio Gomes participou de todas as grandes assembleias Aty Guasu coordenando o ritual religioso. Por essa razão, ele é bem conhecido tanto pelas autoridades federais como pelas lideranças guarani e kaiowá de todas as aldeias do Cone Sul-MS.

A família extensa do Nisio Gomes é originária do território tekoha guasu Guaiviry, ele nasceu no tekoha Guaiviry, casou-se com a também rezadora Odúlia Mendes, já falecida. Já casado, foi expulso do Guaiviry em meados da década de 1970. O Nisio tem dois filhos, duas filhas e vários netos (as). Analfabeto, Nísio tampouco sabe falar bem o português, entende com dificuldade a língua portuguesa. O Nisio, no último ano, estava meio doente, portanto tomava remédio caseiro diverso. Não come as comidas salgadas e nem doces.

Ao longo das três décadas, o Nisio Gomes foi realizador de importante ritual de batismo de crianças, que é um ritual de assentamento de nome/alma no corpo das crianças - mitã mongarai- que era realizada uma vez por mês, ou seja, 15 e 15 dias. O Nisio é portador de instrumento sagrado xiru marangatu e de várias rezas específicas para a realização de ritual de batismo. Ele é conhecedor de plantas medicinais. Como já dito, há três décadas, o Nisio, além de reivindicar o território antigo tekoha Guaiviry, passou a ocupar a função importante de liderança religiosa ñanderu. O rezador Nisio pregava na grande assembleia aty guasu que “nós lideranças guarani-kaiowá que lutamos pela recuperação dos nossos territórios antigos tekoha guasu “nós nunca devemos desistir de lutar pelo nosso tekoha e jamais abandonar nossos familiares e companheiros de luta”. “Até devemos morrer, se for preciso pela nossa tekoha guasu, para salvar muita vida e futuro de nossas crianças”, “mas abandonar a tekoha nunca, porque nos pertencemos ao nosso tekoha guasu”. Estas são algumas frases que o rezador Nisio falava com frequência. É importante destacar que o rezador/líder religioso, na cultura do povo Guarani Kaiowá, é um cargo vital irrenunciável e imutável. Conforme o regimento determinante dos rezadores, o rezador não deve abandonar o território tradicional, os instrumentos sagrados xiru marangatu, nem deve se afastar dos seus auxiliares, aprendizes, parentes, principalmente dos filhos (as), netos (as). Visto que o cargo de rezador é suporte sagrado e protetor vital do território e dos integrantes do povo Guarani-Kaiowá. No seio da família extensa e na grande assembleia aty guasu o rezador é conselheiro religioso em que prega o bom viver sagrado indígena, possuindo o poder educativo e sua autoridade religiosa é reconhecida por serem um idoso, rezador e protetor espiritual de várias famílias extensas pertencentes às diversas tekoha guasu territórios indígenas do Cone Sul de MS.

Baseado nesse regimento rigoroso dos rezadores Guarani e Kaiowá, o rezador Nisio Gomes com vida não deve abandonar o território antigo que ele reocupou, não deve deixar os instrumento sagradosxiru marangatu, auxiliares, aprendizes, parentes, sobretudo os filhos (as), netos (as), porém o território antigo reocupado Guaiviry, os filhos (as), netos (os), parentes foram abandonado por Nisio Gomes no dia 18/11/2011, por quê?? Sem dúvida, o rezador Nisio abandonou já sem vida o território tradicional tekoha Guaiviry reocupado com qual lutou três décadas e ele já sem vida deixou o instrumento sagrado xiru marangatu, familiares em tekoha Guaiviry e, por fim o Nisio não participou mais de última aty guasu só por único motivo porque o rezador Nisio foi massacrado e morto pelos pistoleiros das fazendas no dia 18/11/2011.

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